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Eu lembro de uma orientanda que me trouxe uma história muito interessante: a história da moto e do casamento.
Ela chegou no processo de Orientação de Carreira dizendo que precisava se sentir mais livre no trabalho. "Me sinto presa, sufocada, dentro de uma jaula. É assim que o meu trabalho me trata."
Perguntei o que significava liberdade pra ela. Ela pensou por um tempo, mordeu os lábios, não encontrava respostas. Aí pareceu ter uma ideia e disse assim: "Tem 2 coisas que me fazem eu me sentir livre: andar de moto (que é uma coisa que eu sempre amei desde criança), e o meu casamento (que eu adoro)".
Moto e casamento não têm muito a ver com trabalho, mas, pra ela, tinham tudo a ver com liberdade.
A moto representava a liberdade de se movimentar com facilidade e ter os cabelos ao vento. Quando o pai a levava pra andar de moto ainda criança, ela sentia a liberdade de não precisar ficar amarrada ao banco. Quando ela comprou a sua primeira moto, sentiu a liberdade de poder ir cumprindo com os seus sonhos. Quando ela resolve coisas rapidamente pela cidade, sente a liberdade da locomoção.
Já o casamento representava um espaço seguro, onde ela podia ser quem realmente era, sem precisar inventar um personagem. Era ali que ela sentia a verdadeira liberdade emocional.
Essa conversa foi um marco no processo de autoconhecimento dela. Foi quando ela percebeu que o significado de "liberdade" pra ela estava ligado a alguns dos seus valores mais importantes:
liberdade = autonomia
&
liberdade = segurança emocional
A partir daí, já dava pra entender porque ela se sentia presa no trabalho: ela não tinha autonomia nem segurança emocional ali. E foi assim que conseguimos alinhar suas decisões profissionais a esses valores, o que trouxe clareza sobre quais ambientes e desafios realmente faziam sentido pra carreira dela.
Cada um de nós tem uma definição única pra conceitos como liberdade, sucesso, reconhecimento ou estabilidade. Muitas vezes, usamos essas palavras como se todos atribuíssem o mesmo significado a elas, mas, na verdade, são nossos valores pessoais que moldam essas interpretações.
Isso explica por que algumas escolhas que pareciam promissoras acabam nos frustrando – não estavam, de fato, alinhadas ao que valorizamos na nossa subjetividade.
Se você também sente que está "preso" em decisões ou situações que não refletem quem você realmente é, talvez seja hora de voltar a olhar pros seus valores e dar nomes a eles.
Valores são os ponteiros da nossa bússola: eles nos mostram o caminho mesmo quando estamos confusos. Reconhecer o que realmente precisa estar por trás das suas decisões pode ser o primeiro passo pra viver uma carreira que te realize enquanto pessoa.
Isis Graziele da Silva | CRP 06/142189
Psicóloga e orientadora profissional. Escolheu psicologia porque queria desvendar crimes. Mestre em Psicologia, especialista em Psicologia Jurídica. Tem experiência em consultório e cursinho pré-vestibular. Co-autora de "Pré-vestibular: práticas para psicólogos" e autora de "Por que fazemos selfies?".