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Você não sabe contar a sua história

7 de fevereiro de 2025

Tempo de leitura: 3min


Você já teve dificuldade em se apresentar ou contar sua trajetória profissional? Quando pedem pra você falar sobre sua carreira, você parece engasgar?


Eu tenho atendido muitas pessoas que reclamam de não saberem explicar no currículo ou nas entrevistas o que fizeram aqui. E não é por desconhecerem currículo s ou entrevistas, mas sim porque não sabem falar sobre elas próprias. E eu vou explicar porque isso acontece.


Muitos adultos, mesmo com anos de experiência, ainda derrapam na tarefa narrar suas próprias histórias. Mas o problema não é de agora, esse problema começa lá atrás.


Eu atendo inúmeros adolescentes que estão saindo do Ensino Médio, no momento de escolher a profissão. Poucos são realmente comunicativos. Na maioria das vezes, a história se desenrola como a desse garoto:


Ele chegou para o processo de orientação com um bloqueio evidente. Quando pedi que falasse um pouco sobre a vida e suas experiências, o silêncio foi ensurdecedor - pra dizer o mínimo. Na chamada de vídeo, ele desviava o olhar, se mexia desconfortavelmente, e depois de longos segundo soltou alguns frases curtas: "Não faço nada demais… Sei lá. Minha vida é normal."


Como assim "não faço nada demais"? 17 anos sem fazer nada demais?


Durante as sessões seguintes, começamos a explorar com calma alguns momentos importantes: sua participação em um campeonato escolar, o tempo em que cuidou dos irmãos mais novos quando os pais estavam sobrecarregados, a vez em que liderou um projeto na escola. Aos poucos, ele começou a perceber que tinha sim muitas histórias pra contar. Histórias que ele não enxergava, porque nunca tinha parado pra realmente listar essas histórias, nunca tinha parado pra realmente refletir sobre essas experiências, nunca tinha parado pra realmente atribuir significados a elas.


O mais interessante foi perceber que, à medida que ele se lembrava desses episódios, sua postura mudava. Ele falava com mais segurança, reconhecia suas conquistas, chegava com novidades e se sentia capaz de enfrentar novos desafios.

Essa é a força do autoconhecimento e do reconhecimento da nossa jornada. Quando nos apropriamos de nossas experiências, nos tornamos mais conscientes de quem somos, de onde passamos e pra onde queremos ir.


Recentemente, uma mulher que eu acompanhava falou da dificuldade de preencher o currículo dela assim: "Você acredita que eu não lembro quais atividades eu fazia nos meus trabalhos anteriores? Tive que sair pesquisando coisas antigas nos meus emails, e até o ChatGPT teve que me ajudar a lembrar que tipo de coisa é feita naquelas funções."



Não é amnésia. É falta de experiência na costura dos acontecimentos. E, por mais contra-intuitivo que seja, essa falta de experiência em consturar as próprias experiências é algo que a maioria das pessoas vem praticando desde o início da vida. E isso vai se estendendo pelo caminho, sem que você fale com outras pessoas sobre as conquistas que você teve, ou sobre os desafios que venceu. Sem que você fale com você mesmo sobre essas coisas.


Muitas vezes, o silêncio sobre a própria trajetória vem da crença de que nossas experiências não são "grandes o suficiente" ou "dignas de destaque". Mas o que constrói uma trajetória profissional (e uma trajetória de vida) não são apenas grandes eventos. São as pequenas decisões, as aprendizagens acumuladas e os desafios vencidos ao longo do caminho.


Contar a sua história é um exercício de mergulho interno, de reflexão e reconhecimento. Você começa a conectar os pontos e percebe padrões, habilidades e valores que te definem. Isso não só te ajuda em entrevistas ou apresentações, mas também te permite fazer escolhas no futuro com a maravilhos sensação de que aquela é uma escolha consciente.


Então, se eu puder deixar um último pedido: não subestime as suas experiências. Faça o exercício de olhar pra sua trajetória, resgatar as suas conquistas, dar nome a elas e verbalizá-las. O silêncio pode ser confortável por ser familiar, mas contar a nossa própria história é que é transformador.


Isis Graziele da Silva | CRP 06/142189


Psicóloga e orientadora profissional. Escolheu psicologia porque queria desvendar crimes. Mestre em Psicologia, especialista em Psicologia Jurídica. Tem experiência em consultório e cursinho pré-vestibular. Co-autora de "Pré-vestibular: práticas para psicólogos" e autora de "Por que fazemos selfies?".

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