Tempo de leitura: 5min
Quando eu era psicóloga em um cursinho pré-vestibular de 2000 alunos,
ouvi histórias muito impressionantes (e assustadoras) sobre famílias e escolha profissional.
Tinha a aluna que estava no cursinho há 7 anos e que sonhava em ser Geógrafa. Eu pensei
"Poxa, estranho alguém levar 7 anos pra ser aprovado no curso de Geografia". Até que ela me explicou que os pais exigiam que ela fosse médica, e ela não conseguia contar pra eles do sonho de trabalhar com Geografia, porque
"as coisas ficariam feias em casa". Então todo ano ela fazia 2 vestibulares para Geografia e era aprovada para o curso, mas a família toda procurava o nome dela na lista de Medicina, e, quando não encontravam a aprovação médica, vinha novamente a frase
"Mais um semestre de cursinho pra você".
Essa história me chocou, e eu não podia deixar de pensar que, nesses 7 anos de cursinho, essa já jovem já poderia ter se formado em Geografia e estar construindo a sua carreira feliz da vida. Mas a família pesava mais.
E o cara que já era Advogado, mas (este sim!) sonhava em ser Médico? Ele já tinha seus 35 anos, era casado e tinha 2 filhas. Se formou em Direito depois do Ensino Médio pra dar continuidade no escritório de advocacia da família (típico). Mas seu sonho mesmo era ser médico, coisa que não era aceita porque
"quem iria tocar o escritório da família?", não é mesmo? Então ele se arrumava cedo pra ir pro escritório (com gravata e tudo), dava um beijo na esposa e fazia uma curva no trajeto pra vir ter aulas no cursinho pré-vestibular. Estava decidido a fazer o vestibular pra Medicina, mas a esposa e seus pais não podiam ficar sabendo disso. Era segredo de Estado!
Eu poderia ficar horas aqui falando sobre todos os casos em que a família acabou prejudicando sonhos profissionais, como a jovem que fez
Orientação Profissional com nossos psicólogos aqui no Instituto Viae porque não conseguia escolher NENHUM caminho profissional, já que sentia que
"só daria orgulho pra família se fosse a melhor profissional do mundo na carreira que escolhesse" (e isso é pressão demais pra qualquer pessoa, convenhamos).
Tem aqueles que ficam emperrados na escolha porque vão ser criticados nos churrascos familiares, ou porque não querem viver o sonho que OS PAIS QUERIAM TER VIVIDO profissionalmente, ou porque vão ser menos valorizados por aqueles que tanto amam. Parece exagerado? Bom, não é. Todos nós queremos dar orgulho pra quem é importante pra gente, mas muitas vezes "dar orgulho" vai por um caminho, enquanto nossos sonhos e projetos vão por outro.
Agora uma história pessoal (porque eu também falo por experiência própria). Quando minha mãe estava grávida de mim, ela e meu pai testavam nomes de meninas colocando a palavra "Doutora" na frente dos nomes, porque o ideal pra eles é que eu fosse médica (mesmo antes de nascer, percebe?). Minha mãe via a barriga crescer enquanto fantasiava com um alto falante em um corredor de hospital, que no futuro soaria em alto e bom som:
"Atenção, Dra. Isis! Sua presença é requisitada com urgência na sala de cirurgia!". (Só de imaginar uma mensagem dessas saindo por um alto falante, minha vontade é de correr pra bem longe pra não ter que lidar com nenhuma emergência cirúrgica, cruz credo.)
Acontece que eu saí do Ensino Médio aprovada em Medicina e Psicologia, mas obviamente segui o meu sonho (e não o sonho dos meus pais). O resultado? Eles ficaram vários meses sem conversar comigo (de novo parece exagerado, não é? Mas foi isso que aconteceu.)
O curioso é que atualmente meus pais ficam todos felizes contando aos conhecidos que eu sou uma psicóloga realizada que ajuda as pessoas a fazerem bem suas escolhas profissionais. (Aqueles dois parece que nem lembram o quanto me trataram de forma dura quando eu ignorei minha vaga de Medicina, mas eu nunca vou me esquecer das noites em que chorei em desespero com aquela pressão e com o medo de decepcionar todo mundo.)
Aqui no Instituto Viae estamos descomplicando escolhas profissionais desde 2018 e nossos psis já ajudaram mais de 30 mil pessoas a escolherem seus próximos capítulos. Esses jovens (em geral são jovens) já receberam nossa ajuda em atendimentos online, no nosso app DiretriX, nas nossas aulas no Youtube, nos nossos livros impressos, nas nossas redes sociais e até em conversas diárias com a gente pelo Whatsapp. E será que as famílias deles sabem disso?
(Seria ótimo se soubessem, já que nessa história os personagens têm tudo pra se encaixar: psicólogos que estão dispostos a apoiar, jovens que precisam escolher, pais que querem auxiliar.)
Só que o que ouvimos TODOS OS DIAS são relatos de uma distância colossal dos pais nesse momento de decisão. Na Jornada da Escolha Profissional que fizemos no ano passado gratuitamente pela Internet, tivemos 5000 jovens de Roraima ao Rio Grande do Sul recebendo a nossa ajuda. E, apesar de termos divulgado muito que a jornada também seria ótima para pais, só 2 participaram.
Eu mesma, quando era psi no cursinho pré-vestibular, só recebia 100 pais nas reuniões obrigatórias (lembra que tinha 2000 estudantes na instituição? Onde estavam os responsáveis?!?!).
E aí ficam as grandes incógnitas: a gente sabe que os pais querem que os filhos façam boas escolhas para o futuro. A gente sabe que os pais querem um futuro seguro e confortável pra esses filhos. Mas cadê os pais que realmente estão ajudando? Cri-cri.
Existem algumas hipóteses, é claro:
A questão é a seguinte: milhares de jovens estão sendo ajudados por nós de diferentes formas, e sabemos que essa ajuda pode ser ainda mais poderosa se os pais começarem a vir junto. Porque todo mundo só tem a ganhar com isso (principalmente quem tá fazendo a escolha profissional).
É por isso que por aqui também produzimos ajudas para pais, como o nosso livro “Como falar sobre escolhas profissionais com seus filhos”, com os 12 capítulos que você precisa para:
ajudar seus filhos a fazerem bem as escolhas deles E AINDA manter uma ótima relação com eles durante esse processo.
O livro é pago (e vale muito!), mas hoje estamos te dando de presente - que é pra fazer essa consciência chegar mais longe. ❤️
~ Quero baixar o livro digital de R$97 por R$0
Você não tem filhos, mas chegou até aqui? Encaminhe esse post pra um pai ou uma mãe que é especial na sua vida.