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Pelo que vejo hoje na minha realidade de quase-formada e na realidade dos meus amigos, tanto o primeiro momento da escolha profissional (que é quando você está saindo do Ensino Médio), quanto a escolha da ênfase ou área de atuação (depois que já se está na faculdade), provocam no jovem um medo muito grande de testar caminhos e falhar. É o medo de "escolher errado" e, com isso, ser uma pessoa que "dá errado".
Atualmente, nós vemos o sucesso do outro estampado em todo lugar, e ninguém fala sobre as várias vezes que fracassou até chegar onde está. Então dá a impressão de que a caminhada do outro é contínua e perfeita, enquanto a nossa é torta e cheia de dificuldades.
Quando comecei a buscar uma vaga de estágio, fiz muitas entrevistas até ser aceita no primeiro, mandei um monte de currículos e recebi a resposta de que eu não era a pessoa que a empresa procurava (várias vezes). Diante disso, minha decisão foi: expandir meus recursos profissionais e pessoais. Então fiz muitos cursos além da faculdade, treinei e treinei, até estar mais segura de que eu conseguiria exercer minha profissão.
Hoje, numa entrevista, eu tenho confiança em defender o meu trabalho e a qualidade dele. Mas vejo conhecidos que não estão empregados ou estão em empregos que odeiam - e não é porque estão sendo rejeitados! Eles não enviam seus currículos, porque têm medo de receber um não. Têm dificuldade em lidar com essa simples frustração e estão esperando alguma oportunidade cair no colo.
Mesmo inseguros da própria capacidade ao final da faculdade, também não procuram desenvolver recursos que deem a eles autoestima e confiança. Estão esperando que, do nada, se tornem o "profissional perfeito". E aí sim poderão se expor nas empresas e, "com certeza", serão contratados (eles pensam).
É a dificuldade em lidar com frustrações, com o "não", com a possibilidade de ir por um caminho, falhar, e ter que tentar por outro. Todo mundo quer ter "sucesso" mágico, rápido, sem muito esforço e sem nem parar para refletir sobre o que - de fato - é o sucesso. As redes sociais têm uma grande influência nisso tudo, claro, porque elas nos fazem nos comparar com o outro o tempo todo. Mas como o outro só posta seus sucessos, sempre achamos que ele é/está melhor do que nós.
Na geração dos meus pais, todo mundo tinha seu caminho pessoal e profissional muito bem definido - principalmente nas pequenas cidades -, porque as opções eram pouquíssimas. Com tal idade se casariam, logo depois teriam 2 filhos. Mulheres fariam Contabilidade ou Magistério, homens fariam Engenharia ou Direito. Hoje, porém, a imensa quantidade de possibilidades causa desespero, e a todo momento temos que fazer escolhas profissionais, mesmo não sabendo fazer isso.
É bem mais fácil (e requer menos reflexão) quando apenas seguimos um script que nos foi dado. Inclusive, já ouvi de amigos que eles não querem pensar, que desejam que alguém diga a eles exatamente o que fazer. Já as mulheres precisam desenvolver mais a reflexão enquanto crescem, (porque precisam criar estratégias para serem reconhecidas e valorizadas durante a vida), então parecem estar relativamente mais abertas a essas problematizações.
Mas para além dessas mudanças geracionais, a tecnologia também avança rapidamente, e há sempre a história das profissões do futuro (que não se sabe exatamente se já existem ou não) e a história da extinção de inúmeras profissões existentes (será a minha?). Então, como muitos consideram que a escolha profissional é eterna e que decidir mudar de caminho é sinal de fracasso, aumentamos ainda mais a pressão para fazermos "escolhas certas".
Como se isso fosse possível e como se existissem escolhas realmente certas...