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Como apontado por Bohoslavsky, o orientador deve ter consciência de que é um observador do processo de atendimento, mas também que a sua simples presença já modifica esse processo. Isto porque o psicólogo que faz Orientação Profissional carrega consigo os pressupostos educacionais da sua formação e os pressupostos do sistema produtivo de que participa. Por isso, a fim de distinguir como e quanto a sua presença interfere na situação de orientação que ele está observando e modificando, o orientador precisa manter uma postura crítica diante de todo o processo, para que os seus gostos, interesses e preconceitos pessoais não influenciem a decisão do orientando.
Na estratégia clínica de Orientação Profissional, a comunicação (entrevistas) é o principal instrumento. É ela que possibilita que orientando e orientador construam um bom conhecimento sobre o orientando e também é ela que possibilita que esse conhecimento de fato beneficie o orientando. Mas pra que isso aconteça, o orientador deve cuidar constantemente dessa comunicação e do vínculo que é formado com o orientando, mantendo a postura crítica e imparcial durante o processo.
É preciso considerar que a escolha profissional está intimamente relacionada com o vínculo que o orientando mantém com as pessoas que conhece, e o orientador, claro, é uma delas. Nesse sentido, é muito comum que o orientando tome o orientador como uma figura de referência para pensar sobre o futuro e sua atuação profissional, porque, além de o orientador ser uma figura “que já trabalha”, ele também parece ser uma figura “que conseguiu escolher sua profissão”. É por isso que é tão comum ouvirmos orientadores perguntarem: "Como foi quando VOCÊ teve que escolher uma profissão?". Nessas situações, é importante que o orientador dê voz às dúvidas do orientando e até relate pontos relevantes do seu próprio processo de escolha , mas tomando o cuidado de:
1# não direcionar a escolha do orientando e
2# que o seu processo de escolha não seja o único modelo à que o orientando tenha acesso.
Pelo contrário, o orientador deve ajudar o orientando a identificar quais são os outros modelos e referências profissionais que ele têm e que o ajudam a enxergar as profissões da forma como ele enxerga. A partir disso, é importante ajudá-lo a questionar se esses modelos são fiéis à realidade das profissões no mercado de trabalho atual ou se estão cobertos por fantasias do orientando. Isso também é exercer uma postura crítica no processo.
Como a escolha profissional está muito relacionada à construção de uma identidade, é comum que o contrário também aconteça: que o processo de escolha do orientando desperte questionamentos pessoais no orientador sobre a sua própria escolha profissional. Esse é um processo normal quando pensamos em termos de transferência e contratransferência, e o cuidado que o orientador deve tomar é o de não transmitir as suas necessidades pessoais ao orientando - como a urgência de resolver o dilema da escolha, por exemplo. Para lidar com todos esses processos, tanto o processo de supervisão com outro orientador profissional quanto o processo de psicoterapia pessoal são fortes aliados para quem trabalha com Orientação Profissional.
O que deve ser evidenciado no processo de OP é a construção da narrativa pessoal/profissional do orientando e, para que isso aconteça, o orientador atua como um colaborador. Somos colaboradores dessa construção quando:
~ validamos a narrativa do orientando
~ facilitamos a sua apropriação dos aspectos que são importantes para a realização de uma boa escolha profissional
~ conscientizamos o orientando sobre o contexto histórico e sociocultural em que ele está inserido
~ incentivamos a responsabilização do orientando pela sua escolha
~ promovemos o aumento da sua autonomia